quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

NEGRITUDE, CINEMA E EDUCAÇÃO

por Ilhandarilha · Vitória (ES)
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Em 2005, recebi um inesperado e quase inusitado convite da historiadora Edileuza Penha de Souza para participar de um projeto editorial que acredito seja inédito no país: o livro Negritude, Cinema e Educação – caminhos para a implementação da Lei 10.639/2003. Inesperado porque o livro é dirigido a professores e não sou uma profissional da área da educação. Inusitado porque embora seja uma simpatizante do movimento negro, passo vergonhosamente ao largo da causa, como se minha pele exageradamente branca me dispensasse de envolvimento numa questão tão fundamental como a discussão da invisibilidade da cultura negra na formação cultural e social do povo brasileiro. Mas, como o pedido da organizadora era que eu escrevesse sobre Domésticas (www.domesticasofilme.com.br), o filme, de Fernando Meirelles e Nando Olival, nem pestanejei em aceitar.

Vi Domésticas pelo menos umas dez vezes, e todas com muito prazer. Não fiz isso por nenhuma obsessão pelo filme, não: ele foi exibido no circuito comunitário do projeto Cinema BR em Movimento, no qual atuo aqui no ES. Trabalhar num projeto como esse tem muitas vantagens e certamente a maior delas é poder levar o cinema para um público que normalmente passaria bem longe das salas de exibição (principalmente se o filme for nacional). Mas me atrai, principalmente, a possibilidade de ver um filme que gosto muitas vezes, até decorar planos e diálogos inteiros. Foi assim com Domésticas.

O projeto do livro surgiu nos intervalos entre as conferências do I Seminário Saída da Escravidão e Políticas Publicas, promovido pelo Governo Federal e a UNESCO, em Brasília, no início de 2005. Edileuza e a professora Rosana Pires conversavam sobre como o cinema pode introduzir debates interessantes nas salas de aula e fizeram um rol de filmes que poderiam ajudar os professores nessa tarefa. Daí a pensar num livro que fosse uma espécie de ferramenta guia para educadores foi um pulo. A idéia era fazer uma espécie de roteiro de leitura dos filmes, com sugestões de encaminhamento dos debates e trabalhos didáticos. Os autores (mais de trinta), foram escolhidos pela sua atuação profissional e afinidade com as questões étnico-raciais, com o cinema, ou com ambas as coisas. São profissionais de áreas bem diferentes, de diferentes locais do país, o que deu à publicação um colorido muito peculiar.

A próxima tarefa foi dar forma aos conteúdos recebidos e, parte mais complicada, partir à procura de uma editora que comprasse a idéia. Essa foi a Mazza Edições (www.mazzaedicoes.com.br), de Belo Horizonte, especializada em livros étnicos e educação especial. A editora sugeriu que o livro fosse dividido em dois volumes. O primeiro foi lançado em agosto. Nele estão nove filmes nacionais e seis estrangeiros realizados até 2001. Entre eles Macunaíma; Cruz e Souza, o Poeta do Desterro, Faça a Coisa Certa e A Negação do Brasil. O primeiro volume conta ainda com o primoroso prefácio do documentarista e antropólogo Noel Santos Carvalho (www.cinemando.com.br), que faz uma explanação sobre a trajetória e participação do negro no cinema nacional e fala do movimento paulista Dogma Feijoada (www.cinemando.com.br), do qual faz parte.

O volume II , a ser lançado em março de 2007, trará produções de 2002 em diante. Mesmo com algumas falhas na escolha dos filmes, Negritude, Cinema e Educação é um livro que merece lugar importante nas bibliotecas escolares e, principalmente, na mesa de cabeceira dos professores.
Para vocês sentirem o gostinho do Negritude, vai em anexo o meu artigo sobre Domésticas.

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